Sustentabilidade e multifuncionalidade dos espaços rurais: o caso do complexo eólico Campos Neutrais
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo analisar as mudanças associadas à implantação de projetos de geração de energias alternativas, mais especificamente, a instalação do Complexo Eólico Campos Neutrais, localizado em áreas rurais do extremo sul do Rio Grande do Sul, onde os agricultores aderiram a contratos firmados com grandes empresas, através dos quais passaram a obter vantagens econômicas sob a forma de rendas territoriais totalmente desvinculadas da produção agropecuária. Investiga-se, as transformações associadas à recente implantação do “Complexo Eólico Campos Neutrais” no extremo sul gaúcho enquanto alternativa de renda e de diversificação das economias regionais. Há duas questões norteadoras. De um lado, trata-se de saber como os produtores avaliam a perspectiva de contar com uma forma de ingresso econômico desvinculada totalmente das atividades agropecuárias; de outro, avaliar em que medida a implantação de estruturas de produção de energia limpa produz alterações no modo como agricultores e lideranças percebem a questão da sustentabilidade ambiental. A pesquisa tem como referencial e apoio teórico a Teoria das representações sociais de Moscovici (1961). Assim, foi feita uma pesquisa qualitativa, na qual foram realizadas vinte e seis entrevistas individuais semiestruturadas. Nesse contexto, examinamos como essa transição tem sido metabolizada nos processos mentais dos agricultores. A revelação dessa dinâmica mostrou-se inovadora, salientando as mudanças significativas ocorridas na vida dos proprietários que aderiram ao projeto, com reflexos benéficos sobre as comunidades envolvidas e regiões onde o Complexo foi implementado. O grande efeito foi justamente firmar o conceito, sem precedentes históricos, de que poderiam ser desenvolvidas nas zonas rurais atividades não agrícolas geradoras de renda totalmente desvinculadas da produção agropecuária e de como essas atividades podem ser transformadoras das ideias e práticas do campo. A tradicional vocação dos espaços rurais como meros produtores de alimentos não é mais suficiente para atender as novas exigências e demandas da sociedade brasileira e das coletividades regionais, isto é, novas funções passam a ser atribuídas aos espaços rurais. Não obstante, não há elementos que apontem a uma mudança dos produtores com relação ao ambientalismo. Agricultores e lideranças rurais seguem aferrados, em grande medida, a uma visão que enxerga a questão ambiental como cerceamento dos direitos sobre o uso dos recursos naturais.