Desenvolvimento linguístico das vogais baixas anteriores do inglês como L2: o papel da instrução explícita e treinamento articulatório mediada pelo ultrassom
Resumo
A presente dissertação aborda o papel da instrução explícita e do treinamento
articulatório, por meio da ultrassonografia, no processo desenvolvimental das vogais
frontais baixas /æ/ e /Ɛ/ do inglês por aprendizes brasileiros de inglês como segunda
língua (L2). Para isso, foram realizadas doze coletas de dados de produção acústica
de quatro informantes de semestres iniciais do curso de Letras - Português e Inglês
da Universidade Federal de Pelotas, contando com estímulos visuais (apresentação
de imagens) para que os informantes produzem os sons-alvo em uma frase veículo.
As coletas ocorreram em três momentos distintos: i) coletas iniciais, ii) coletas de
instrução explícita e iii) coletas finais. Tendo por base a Teoria dos Sistemas
Dinâmicos Complexos e a existência da variabilidade no processo de
desenvolvimento linguístico (Larsen-freeman 1997, 2015, 2017; Hiver e Al-Hoorie
2016, Hiver, Al-Hoorie e Evans 2021, 2022; De Bot; Lowie E Verspoor 2017, 2021
2022), os dados longitudinais foram descritos e analisados por meio de estatísticas
descritiva e inferencial de forma a averiguar se o treinamento articulatório pode ser
um fator a ocasionar mudança linguística (Cf. Taylor, 2000; Verspoor, De Bot E
Lowie, 2011; Schereschewsky, 2021). Os resultados demonstraram que o
treinamento articulatório mediado por ultrassom teve um impacto positivo nas
produções das vogais, evidenciado por mudanças significativas nos valores
formânticos (F1 e F2) e na duração das vogais. Após o treinamento, houve uma
estabilização e aproximação das produções das vogais do Português Brasileiro (PB)
em relação às vogais do inglês, especialmente a vogal [æ]. Os testes estatísticos
descritivos e inferenciais das coletas longitudinais revelaram que as produções
vocálicas evoluíram ao longo do tempo, em especial para as informantes S2, S3 e
S4 que mostraram progresso na qualidade vocálica de [æ], assemelhando-se,
assim, a da vogal realizada pela nativa de IA, ainda que diferenças duracionais
tenham permanecido. Contudo, S1 apresentou dificuldades na distinção entre as
vogais [ε] e [æ], evidenciando desestabilização do sistema, mas não o suficiente
para que avanços no processo desenvolvimental fossem realizados. Esses
resultados indicam que a metodologia utilizada foi eficaz para melhorar a produção
das vogais, além de a análise longitudinal, via TSDC, ter sido fundamental para
compreender a trajetória desenvolvimental das produções das vogais e os impactos
das sessões de instrução explícita e do treinamento articulatório com o ultrassom na
variabilidade do sistema fonético-fonológico.