A tríade pronominal na obra O Estrangeiro, de Albert Camus: uma intersecção entre os estudos da linguagem, da filosofia e da literatura
Abstract
Esta tese explora uma discussão pronominal a partir da intersecção entre os
estudos linguísticos, literários e filosóficos, com foco nos pronomes e suas
implicações sobre a subjetividade e a experiência humana. Analisar a linguagem,
a partir do ponto de vista de Émile Benveniste, é abordar o sujeito, sua
subjetividade e sua relação com o mundo. Utilizando teóricos pertinentes às
questões relativas à tríade pronominal e à subjetividade e experiência humana,
tais como Benveniste (2005; 2006) e Dufour (2000), a pesquisa estabelece uma
base para teorizar o estudo pronominal em diferentes campos do conhecimento.
A tese propõe que a análise das marcas linguísticas abre caminho para debates
literários e filosóficos sobre o sujeito, o mundo e a (falta de) alteridade. Investigar
pronomes no contexto literário também é investigar o ser humano, suas
angústias e sua relação com a realidade e a morte, uma vez que a experiência
humana é sempre mediada pela linguagem. Especificamente, a tese examina o
processo intersubjetivo do eu (1ª pessoa) e do tu (2ª pessoa) na obra O
Estrangeiro (1942) de Albert Camus, bem como o papel do ele (3ª pessoa),
através da personagem principal, Meursault. O personagem-narrador constrói
sua narrativa alternando entre monólogo e diálogo, refletindo diferentes
dimensões de sua relação com o mundo. Essa dinâmica vai procurar evidenciar,
neste trabalho, o embate entre o eu e as expectativas sociais. A partir dos
princípios fundadores do pensamento de Émile Benveniste, a pesquisa explora
a teorização dos pronomes eu, tu e ele, e sua relevância na constituição da
subjetividade. A análise avança para discutir como a língua molda e renova a
sociedade e estabelece uma conexão entre a teorização de Benveniste e a
literatura para que seja possível discutir não apenas o papel da análise
linguística na obra literária, como também a discussão filosófica que advém da
análise do personagem Meursault, que coloca em cena os conceitos de absurdo
e revolta, pontos filosóficos sobre a existência humana discutidos por Albert
Camus em O mito de Sísifo (1942) e O homem revoltado (1951). A discussão se
apoia na ideia de reversibilidade entre eu e tu, que autentica a posição de sujeito,
na enunciação, como meio pelo qual a língua se transforma em discurso. Este
estudo contribui para uma compreensão mais profunda da linguagem como
mediadora da realidade e do sujeito, e como a análise pronominal pode abrir
novas perspectivas nos campos literário e filosófico.