Especialização esportiva, volume de treinamento e desfechos psicológicos em jovens atletas
Resumen
A presente dissertação de mestrado é composta por dois estudos, um original e uma
revisão sistemática acerca da especialização esportiva e desfechos psicológicos em
jovens atletas. O artigo 1 é um estudo original, com o objetivo de investigar se existe
associação entre o nível técnico, o volume de treinamento e os sintomas psicológicos
em jovens ginastas. A amostra foi composta por meninas, de 10 a 12 anos, que
participaram dos campeonatos da Confederação Brasileira de Ginástica em 2022. As
participantes responderam a um questionário online, via plataforma Google Forms, com
auxílio de um responsável maior. As variáveis foram analisadas através do software
SPSS 20.0. Foi utilizado o teste de Mann-Whitney para a comparação dos dados entre
os níveis técnicos e a correlação de Spearman para verificar a associação entre o
volume de treinamento e desfechos de interesse. Para avaliar a associação entre
exceder ou não as recomendações de volume para a faixa etária foi realizada uma
regressão logística. Sessenta e três ginastas responderam aos questionários. Elas
tinham, em média, 11,17 ± 0,69 anos e treinavam 17,07 ± 7,50 horas semanais. Foi
identificada uma correlação baixa, porém significativa, para idade de ingresso na
modalidade (rho= 0,285; p=0,037) e idade da primeira competição (rho= 0,307; p=
0,024) com o volume de treinamento. Os sintomas depressivos (rho= 0,090; p= 0,517),
de estresse (rho= 0,059; p= 0,672) e ansiedade (rho= 0,120; p= 0,389) não
apresentaram correlação significativa com o volume de treinamento. Ainda, ser
especialista aumenta em quatro vezes a chance de a atleta exceder o volume de
treinamento (OR= 4,07; IC95% 1,00; 16,61). Por outro lado, para cada ano que
aumenta a idade de início do treinamento e competição, diminui a chance de
ultrapassar o volume recomendado em 1,4 vezes (OR= 0,70; IC95% 0,50; 0,98; OR=
0,71; IC95% 0,53; 0,94). Apesar de a associação entre o volume de treinamento e
desfechos psicológicos em jovens atletas ser amplamente teorizada, o presente estudo
não encontrou associação entre as variáveis em questão. O artigo 2 foi uma revisão
sistemática, que teve por objetivo sintetizar os principais achados dos estudos originais
sobre a especialização esportiva e desfechos psicológicos em jovens atletas de
diferentes modalidades esportivas. Foi realizada uma busca nas bases de dados
PubMed, Embase, Sport Discus, CINAHL, PsycInfo e Lilacs. Dois pesquisadores
conduziram a seleção, extração dos dados e a análise de qualidade. Os resultados
foram sintetizados de maneira qualitativa. Foram incluídos treze estudos na revisão,
que analisavam a especialização esportiva e diferentes desfechos psicológicos, como
qualidade de vida, qualidade do sono, sintomas de ansiedade, depressão, Burnout,
percepção de bem-estar e motivação. Destes, oito não apresentaram diferença
significativa no principal desfecho psicológico de interesse entre os grupos de
especialização. Apesar de especialistas da área e organizações médicas se
posicionarem contrárias à especialização esportiva, nossos resultados sugerem que o
volume de treinamento e a EE não estão associados aos sintomas psicológicos em
questão. Considerando as recomendações de volume para a faixa etária, ser
especialista aumenta a chance de a atleta exceder o volume de treinamento. Ainda, a
revisão evidenciou que não há diferença entre grupos de especialização esportiva para
a grande maioria dos desfechos. Sendo assim, a EE parece não estar associada a uma
pior qualidade de vida, sintomas de estresse, ansiedade, depressão e Burnout. A
associação com qualidade do sono se mostrou inconclusiva. Ainda, atletas altamente
especializados parecem ter uma maior sonolência diurna que os com níveis mais
baixos de especialização.