Do conhecer ao compreender: o brincar que se manifesta na rotina de uma turma na Educação Infantil
Resumo
Esta pesquisa visou conhecer e compreender as manifestações brincantes de
crianças de uma turma de educação infantil em Pelotas/RS. Para isso,
investigamos as diferentes formas de brincar no cotidiano escolar de uma turma
de pré-escola (crianças de 3 a 4 anos) em uma comunidade periférica da cidade.
Identificamos e descrevemos as interações das crianças com o ambiente e com
o outro, os tipos de brincadeiras e os materiais utilizados, além de interpretar as
percepções das professoras e demais agentes educacionais sobre essas
manifestações. Adotamos uma abordagem qualitativa, utilizando o método de
estudo de caso etnográfico conforme discutido por Marli André. Os instrumentos
de coleta de dados incluíram observação participante com registros em diário de
campo, áudio diário das brincadeiras, fotografias, vídeos de episódios lúdicos no
cotidiano escolar, e entrevistas semiestruturadas com professoras e outras
funcionárias. A análise temática foi empregada para estruturar nossa
compreensão do fenômeno, triangulando os dados para maior robustez.
Baseando-nos em estudos sobre o movimento humano, consideramos o brincar
um ato inerente à criança, espontâneo e fundamental para o diálogo com o
mundo, essencial nas estruturas socioculturais infantis para a produção e
reprodução de suas culturas de pares. Observamos que o brincar no cotidiano
escolar transcende rituais e estruturas rotineiras, manifestando-se em diversos
espaços e tempos, o que nos levou a analisar suas dinâmicas em diferentes
partes da rotina escolar. As brincadeiras mostraram-se como potentes formas de
expressão, criação, interação, transformação, reflexão e apreensão do mundo.
Quando espontâneas, revelaram-se meios de expressão genuína e interação.
Quando propostas pelas professoras, serviram como acolhimento, estímulo à
imaginação e expressão, e meio para desenvolver habilidades, embora
pudessem conflitar com a lógica temporal do brincar infantil, que se relaciona
intimamente com o presente da criança. Para os agentes educacionais, o brincar
é visto principalmente como a principal expressão da criança, proporcionando
uma abertura para conhecê-la melhor. No entanto, também é percebido como
um elemento pedagógico central, potencialmente incompatível com o modelo
escolar atual. Concluímos que o brincar das crianças coexistiu e resistiu à
institucionalidade, oferecendo possibilidades de conhecer e compreender o
mundo ao seu redor, especialmente junto aos seus pares.