Desigualdades socioeconômicas no acesso a medicamentos: análise da prevalência de acesso a medicamentos de uso contínuo entre mulheres no Brasil
Abstract
Esse trabalho tem como objetivo analisar o acesso da população a medicamentos, avaliando a prevalência de acesso a medicamentos de uso contínuo para tratamento de um determinado grupo de doenças crônicas e investigando a existência de desigualdades socioeconômicas no acesso. Para tanto, utilizou-se dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde 2006, com uma amostra composta de 15.575 mulheres com idade entre 15 e 49 anos, representativa de todas as regiões do país e dos contextos urbano e rural. O desfecho foi construído a partir da seção sobre acesso a medicamentos da PNDS 2006, com base no diagnóstico de doença crônica e na necessidade de obtenção de medicamento para tratamento. Para a elaboração das análises utilizou-se cinco grupos de variáveis independentes: geográficas, demográficas, socioeconômicas, organizacionais e de saúde. A análise ajustada foi conduzida através de um modelo de regressão de Poisson. A prevalência de acesso total aos medicamentos foi de 87,4%. Os grupos que apresentaram maior prevalência de acesso na análise foram: domiciliados na zona rural, com diagnóstico de apenas uma ou duas das doenças crônicas abordadas e de nível socioeconômico mais elevado. Na análise do acesso a medicamentos por doença crônica os fatores associados variam de acordo com o tipo de doença, sendo que variáveis socioeconômicas estão diretamente relacionadas ao maior acesso. A maioria dos indivíduos obteve os medicamentos que necessitavam através do SUS ou através da farmácia comercial, sendo que os indivíduos mais pobres obtiveram mais medicamentos através do SUS, enquanto os mais ricos adquiriram mais medicamentos em farmácias comerciais. Os motivos mais frequentes para a falta de acesso relacionaram-se a não ter no SUS e não ter dinheiro. A prevalência de acesso encontrada foi alta, mas está de acordo com os padrões observados no país. No entanto, as análises demonstram que existe desigualdade socioeconômica no acesso a medicamentos a favor dos mais ricos, sendo identificado como grupo mais vulnerável aquele dos indivíduos mais pobres e com maior número de doenças crônicas.