A formulação da entrevista científica: uma proposta baseada nas noções bakhtinianas de alteridade e exotopia
Abstract
Por considerar as práticas linguageiras dispositivos de acesso a uma dada ordem de saberes e as situações de fala um espaço propício para a subjetivação, que, no caso das ações de investigação científica, pode permitir a revelação de especificidades dos envolvidos, enriquecendo a pesquisa, partimos das noções bakhtinianas de alteridade e exotopia para defender a proposição de que, na formulação das perguntas do roteiro do procedimento metodológico de entrevista, a consideração e o contato prévios com o contexto específico dos pesquisados (entrevistados) permite que o pesquisador (entrevistador), ao elaborar as perguntas do roteiro, reduza significativamente o direcionamento do discurso respondente dos pesquisados (entrevistados), respeitando devidamente seu estatuto de sujeitos, e não apenas de objetos de pesquisa. O processo considerou as características de atividade de pesquisa que utilizaram a entrevista como procedimento metodológico de captura e análise. A entrevista, neste sentido, é entendida como um dispositivo de produção de discurso, que permite condensar várias situações de enunciação ocorridas em momentos anteriores (ROCHA, DAHER, SANT’ANNA, 2004), fazendo emergir uma fala portadora de considerações relevantes não somente sobre o pesquisado como, principalmente, sobre a pesquisa. Foram operacionalizados conceitos sobre a atividade de pesquisa acadêmica, a entrevista em situação de investigação, a teoria dialógica do discurso (VOLOCHINOV, 2004), a alteridade e a exotopia bakhtinianas (BAKHTIN 1992), entoação avaliativa e responsividade ativa, tal como apresentadas por Sobral (2009), dentre outros. Considerações finais possibilitaram compreender como o pesquisador revela características da complexidade da atividade tanto de pesquisa quanto do próprio estatuto, no que se refere ao modo como foram elaboradas as perguntas do roteiro da entrevista, que será utilizado como procedimento para pesquisa científica. Portanto, essa tese não busca questionar o método de entrevista e sim, refletir sobre a possibilidade de torná-lo parte de um proceder alteritário e exotópico.