Lazer e decolonialidade no Ruas de Lazer em Pelotas/RS
Abstract
Esta dissertação investiga em que medida o projeto de extensão Ruas de Lazer, a
partir da edição ocorrida no bairro navegantes em 2024, realizado pela Universidade
Federal de Pelotas, expressa traços decoloniais em suas práticas, discursos e
articulações, desafiando narrativas hegemônicas sobre lazer, território e
pertencimento. Partindo da compreensão do lazer como direito social, necessidade
humana e dimensão da cultura. O estudo se insere no campo das epistemologias
críticas e insurgentes, ancorado nos aportes da perspectiva decolonial e
interseccional. O primeiro artigo, elaborado a partir de um estudo baseado na
literatura, mapeou produções acadêmicas que articulam lazer e decolonialidade,
evidenciando a emergência de um campo de pesquisa comprometido com saberes
situados e com a valorização de manifestações culturais populares, indígenas,
negras, quilombolas e periféricas. A análise revela um movimento de deslocamento
nos estudos do lazer, que passam a reivindicar outras epistemologias e metodologias,
muitas delas enraizadas na oralidade, na ancestralidade, na corporeidade e na
fabulação, como formas legítimas de produção de conhecimento. O segundo artigo
baseou-se em uma investigação empírica sobre a edição de 2024 do projeto Ruas de
Lazer, realizada no bairro Navegantes, em Pelotas/RS, no contexto pós-tragédia das
enchentes que afetaram o estado. Nesse contexto, observou-se como o projeto se
tornou um espaço de acolhimento, expressão e cuidado, especialmente por meio da
articulação entre universidade, poder público e comunidade. Os dados foram
produzidos por meio de observações diretas, registros fotográficos, documentos
institucionais e anotações em diário de campo, sendo analisados através da Análise
Textual Discursiva (ATD). Os resultados revelam tanto os limites quanto as potências
do projeto: por um lado, a ausência de menções explícitas a marcadores como raça,
gênero e classe nos documentos institucionais indica a persistência de silêncios
coloniais; por outro, algumas práticas evidenciam experiências de resistência, afeto e
re-existência que reconfiguram os sentidos do lazer. A pesquisa propõe compreender
o lazer como território de disputa simbólica, política e epistêmica, e as ações do Ruas
de Lazer como possíveis práticas de fabulação política. Ao escutar os saberes e
corpos que emergem das margens, reconhece-se o projeto não como essencialmente
decolonial, mas como espaço em disputa.
