Qualidade de feijão caupi em função de herbicidas dessecantes utilizados na pré-colheita e das condições de armazenamento
Abstract
O feijão caupi (Vigna unguiculata) é produzido principalmente em pequenas propriedades da região nordeste do país. Com o déficit na oferta de feijão e os preços atrativos observados na entressafra, grandes produtores da região Centro-Oeste passaram a cultivar feijão caupi, especialmente da variedade Bico de Ouro. Por se tratar de uma dicotiledônea com hábito de crescimento indeterminado, as plantas apresentam vagens secas, vagens no ponto ideal e vagens verdes no momento da colheita. A colheita manual em grandes propriedades é inviável, sendo necessária a aplicação de herbicidas para uniformizar a senescência das plantas e o grau de maturação dos grãos para, então, viabilizar a colheita mecanizada. Desta forma objetivou-se com o presente estudo: (1) Avaliar as consequências da utilização de herbicidas dessecantes em pré-colheita sobre propriedades químicas e tecnológicas do feijão caupi da variedade Bico de Ouro, e (2) Avaliar efeitos da temperatura e da atmosfera de armazenamento sobre propriedades tecnológicas do feijão caupi da variedade Bico de Ouro. Os herbicidas glifosato (GLI), glifosato mais carfentrazona (GLI/CAR) e paraquate (PAR) foram testados em pré-colheita, no primeiro estudo. Grãos colhidos manualmente foram utilizados como controle (SEM). Os grãos foram, também, armazenados a 25ºC, por 8 meses, para avaliar a suscetibilidade ao envelhecimento. Para o segundo estudo, grãos de feijão caupi da variedade Bico de Ouro foram armazenados por 8 meses com nitrogênio ou em atmosfera hermética, a 15, 20 ou 25°C. A aplicação de herbicidas dessecantes na pré-colheita proporcionou alterações nos parâmetros de qualidade. Grãos obtidos de plantas tratadas com PAR e GLI apresentaram coloração mais escura logo após a colheita. No entanto, no armazenamento, a cor do tegumento dos grãos obtidos de plantas tratadas com PAR se manteve mais estável. A aplicação de GLI proporcionou acúmulo em níveis mais elevados de compostos fenólicos, principalmente compostos complexos como as proantocianidinas. Foi possível identificar moléculas de discriminação do feijão caupi em função do herbicida utilizado, sendo elas: catequina-3-glicosídeo e epicatequina (para grãos obtidos de plantas tratadas com GLI), ácido cítrico (para grãos de plantas tratadas com GLI/CAR), e quercetina e ácido glucônico (para grãos obtidos de plantas não submetidas ao tratamento com herbicidas). Os teores residuais de glifosato e paraquate foram superiores aos limites máximos tolerados pelo Codex Alimentarius e pela União Européia. Em relação ao segundo objetivo apresentado, o feijão caupi armazenado em atmosfera com nitrogênio a 20°C manteve atributos de cor, cocção e dureza muito próximos aos grãos armazenados pelo mesmo período a 15°C.