O nível de representação do conhecimento ortográfico de professoras dos anos iniciais
Resumo
O tema desta pesquisa é a discussão, à luz do Modelo de Redescrição
Representacional (MRR) de Karmiloff-Smith (1994), acerca dos níveis de
representação do conhecimento de professores dos anos iniciais referente à
ortografia. As manifestações verbais dos sujeitos investigados, concernentes ao
funcionamento do sistema ortográfico do português, especificamente em relação às
arbitrariedades (a grafia do fonema /s/) e às contextualidades (a grafia do ‘r-forte’),
estão no foco da análise. Participam da pesquisa seis professores de duas escolas
da rede pública de Pelotas. Os dados foram obtidos por meio de uma entrevista
semi-estruturada e da aplicação de três instrumentos de coleta de dados preparados
especificamente para o estudo, os quais se caracterizam como tarefas. A entrevista -
primeira etapa da pesquisa - buscou uma aproximação da pesquisadora com as
professoras. Já a segunda etapa, composta por tarefas distintas, oferece elementos
para a avaliação do nível de representação do conhecimento dos professores dos
anos iniciais sobre as regras contextuais e arbitrárias. A primeira tarefa se
desenvolveu a partir da análise de grafias incorretas com a subsequente tentativa de
reflexão sobre elas; a segunda constitui-se de um ditado de palavras pouco
frequentes e posterior justificativa às escolhas gráficas; e, por fim, a tarefa de erro
intencional, na qual as professoras tinham de escrever como se fossem os alunos.
Os resultados, de modo geral, evidenciam que há uma predominância dos níveis de
representação que não permitem a verbalização relativa aos saberes destas
professoras dos anos iniciais sobre o funcionamento da ortografia, o implícito (I) e o
explícito 1 (E1). Observou-se uma tendência à explicitação apenas parcial das
regras contextuais, especificamente a do “r-forte” no início de palavra; e, em relação
à grafia do fonema /s/, o predomínio de manifestações interpretadas como
características do nível implícito, no contexto intervocálico. Os resultados da
pesquisa mostram que, apesar de ‘saber fazer’, os sujeitos não sabem por que
fazem e, na maioria das vezes, não conseguem explicar as escolhas feitas. Ao final
do estudo, foi possível estabelecer correlação positiva entre o comportamento
procedimental e pouco explicitável dos professores estudados sobre o conhecimento
das regras ortográficas focalizadas e os resultados revelados em análises de dados
de escrita espontânea de crianças do mesmo período escolar, isto porque são
exatamente aquelas regras não explicitadas pelos professores as que oferecem
maior dificuldade aos alunos, a qual se revela por meio da concentração de erros
ortográficos em suas produções escritas, conforme mostram os estudos de Araújo
(2008) e Garcia (2008).
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