Bases para o manejo de Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855 (Coleoptera: Curculionidae) em pomares de pessegueiro e macieira
Abstract
O gorgulho-do-milho Sitophilus zeamais Motschulsky, 1855 (Coleoptera: Curculionidae)
é um inseto-praga típico de grãos armazenados que tem atacado frutíferas de clima
temperado, com destaque para as culturas do pessegueiro e macieira na região Sul
do Brasil. A falta de uma ferramenta de controle inviabiliza o manejo deste insetopraga em pomares, resultando em prejuízos econômicos aos fruticultores, bem como
pode representar um risco ao manejo integrado de pragas e por consequência a
busca por uma agricultura sustentável. O estabelecimento de um sistema de manejo
em pomares implica primeiramente conhecer a bioecologia deste inseto-praga, para
a determinação de um sistema de monitoramento e controle eficientes. Neste
contexto, este trabalho objetivou estudar a bioecologia e controle do gorgulho-domilho S. zeamais em pêssego e maçã, tendo como objetivos específicos: (i)
determinar a dinâmica populacional e distribuição de ataque em pomares de
pêssegueiro (cultivares de ciclo precoce e tardio) e pomar de macieira, identificando
a espécie coletada em cada pomar; (ii) relacionar o ataque do gorgulho-do-milho
com danos diretos e indiretos em pêssego; (iii) caracterizar o dano devido a
oviposição e avaliar o desenvolvimento de S. zeamais em pêssego e maçã; (iv) avaliar
as respostas comportamentais de S. zeamais aos voláteis emitidos por pêssego e
maçã; (v) avaliar a eficiência de controle e persistência de agrotóxicos para o
manejo de S. zeamais em pomar de pessegueiro. Os resultados mostram que todos
os insetos coletados em pêssego e maçã nas áreas estudadas, na região de
Pelotas, RS, foram identificados como S. zeamais, sendo que o ataque concentra-se
na fase de colheita, em frutos maduros, tanto em cultivares precoces como tardias
de pessegueiro e na cultivar de maçã Eva. Em pessegueiro foi observado, em duas
safras, um período de ataque de até quatro semanas, enquanto que em macieira, o
período de ataque observado foi de sete semanas. No início da infestação dos
pomares (pessegueiro e macieira) foi observado um maior número de machos,
ocorrendo principalmente nos frutos do terço superior da planta (> 1,7m), sendo em
seguida no terço médio (entre 1,0 e 1,7 m), no qual se concentrou o maior número
de frutos atacados. Em pomares de pessegueiro, observaram-se diferenças no
ataque em pêssegos verdes e maduros, o que foi comprovado em bioensaio
realizado, onde em condições de infestação artificial, em frutos verdes os danos
devido a alimentação foram em menor grau quando comparados ao frutos maduros.
O tempo de permanência dos gorgulhos sob os frutos, bem como a densidade de
insetos, influência diretamente os danos diretos e indiretos em pêssego, sendo que
quanto maior o número de gorgulhos sob o fruto, menor é o tempo necessário para o
início da queda e da incidência da podridão parda. A presença de um inseto durante
dois dias se alimentando em pêssego maduro pode favorecer a queda de 50% dos
frutos enquanto que em frutos verdes observou-se um máximo de 40% de queda de
frutos somente com oito gorgulhos durante oito dias em contato com os frutos. Os
danos provocados pela alimentação de S. zeamais e por meios mecânicos,
associados a presença de Monilinia fructicola, favorecem a ocorrência da podridãoparda em pêssego em condições de campo. Sendo assim, os danos devido a
alimentação de S. zeamais em pêssego favorecem a queda de frutos e a incidência da
podridão parda. Contudo, os danos não se restringem apenas a alimentação, visto
que estudou-se a biologia S. zeamais pêssego e maçã e observou-se a oviposição e o
o desenvolvimento das fases imaturas e a emergência de adultos, demonstrando
pela primeira vez que S. zeamais se utiliza dos hospedeiros alternativos como
pêssego e maçã para alimentação e oviposição. Frutos de pêssego e maçã
apresentam efeito sobre a longevidade de machos e fêmeas do gorgulho do milho,
S. zeamais, quando estes se alimentam por um período superior a oito dias. Em testes
utilizando olfatometria, verificou-se que possivelmente adultos de S. zeamais são
atraídos aos pomares por compostos voláteis de pêssego e maçã no estádio
maduro. Curiosamente, observou-se que os compostos voláteis de frutos de
pêssego no estádio maduro apresentam maior atratividade que voláteis emitidos por
grãos de milho, enquanto que voláteis emitidos por frutos no estádio verde não
possuem atratividade. Como alternativa imediata de controle de S. zeamais em
pomares de pessegueiro e macieira, tem-se a possibilidade de utilização de alguns
inseticidas, os quais foram testados em condições de campo e laboratório, sendo
que os inseticidas [i.a./produto comercial/(ml ou g.100L)] malationa/Malathion® 1000 CE (200), fosmete/Imidan® 500 PM (200), e fentiona/Lebaycid® 500 CE (100)
apresentaram baixa persistência após a pulverização dos tratamentos em condições de campo, enquanto que o inseticida tiametoxan/Actara® 250 WG (30) mostrou
persistência superior aos demais inseticidas testados e apresenta potencial para
registro nas culturas do pessegueiro e macieira.
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