João Simões Lopes Neto, o pensador social e a educação : breve estudo sobre a conferência Educação Cívica
Abstract
O presente trabalho procura abordar uma faceta pouco conhecida do consagrado literato pelotense João Simões Lopes Neto, a de educador. Mais do que isso - buscou as implicações de pensador social em suas propostas cívico-educacionais. Partiu-se da hipótese de Chiappini (1988), de que o escritor possuía um projeto cívico-pedagógico. Tal projeto, albergado sobretudo em suas conferências Educação Cívica (1ª versão em 1904; 2ª versão em 1906) coloca em evidência o ideário republicano, marcado pelo ímpeto de modernização do País, sob a égide de diversas correntes político-filosóficas, em que se sobressaia o positivismo. O referencial teórico utilizado, além da citada Chiappini, constitui-se principalmente das obras de Fischer (2013) e Arriada & Tambara (2005), amparado metodologicamente pela Grounded Theory, na abordagem de Glasser & Strauss (1967). Para empreender a investigação da pergunta de pesquisa definiram-se três categorias, quais sejam: nacionalismo, folclore e progresso, sendo estas analisadas, junto com os artigos jornalísticos do autor, especialmente os ligados às preocupações político-sociais e educacionais, em confronto com a conferência Educação Cívica. Quanto às fontes, procurou-se valorizar a documentação inédita, como por exemplo, as atas do Gimnásio Pelotense, em que se encontra o único registro oficial conhecido da atividade docente do escritor regionalista. Além da referida conferência privilegiou-se dois discursos, um proferido na inauguração do Colégio Elementar Pedro Osório (1913) e outro na Academia de Letras do Rio Grande do Sul (1911). Valemo-nos de muitos periódicos para resgatar artigos, cujas fontes primárias, em geral, se encontram bastante deterioradas. Quando não foi possível examinar a fonte original, servimo-nos do trabalho de Moreira (1982-1984). As conclusões a que se chegou podem ser resumidas no seguinte: Simões Lopes Neto possuía um pensamento social, embora não sistemático, cuja categoria articuladora era a educação. Sua atividade pedagógica e docente, o que incluía um vasto leque de ações, desde campanhas cívicas e participação comunitária até a produção de livros didáticos, estava calcada numa Filosofia da História e numa Filosofia da Educação, que se moviam não sem ambiguidades e contradições, numa dialética entre Liberalismo e Positivismo, tal como nos apresenta Sevcenko (1983). Simões Lopes Neto, ao contrário de outros autores pré-modernistas, que podem ser
colocados em posições antagônicas, tais como Coelho Neto e Lima Barreto, sintetiza qualidades e defeitos de ambos, permitindo uma janela, naquilo em que nos é possível acessar, para os impasses da modernização brasileira na primeira década republicana. Deste modo, embora Simões Lopes Neto estivesse sintonizado com o ideário programático que dominava a maioria dos intelectuais seus contemporâneos – leiam-se José Veríssimo, Afonso Celso Junior, Manoel Bomfim, entre outros - em que o debate sobre os problemas nacionais frequentemente apareciam ligados à educação, a originalidade de sua formulação está, de um lado, no papel central que atribuiu ao despertamento da nacionalidade como fator de integração e desenvolvimento do país, porém, valorizando a identidade da cultura popular e da literatura.
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