Comparação da administração ad libitum de dietas “very low fat” e cetogênica em camundongos e os reflexos fisiológicos da não adesão
Abstract
A obesidade constitui uma ameaça significativa à saúde pública, pois eleva o risco de
doenças crônicas não transmissíveis, impactando negativamente a qualidade de vida,
a produtividade no trabalho e gerando altos custos para o sistema de saúde. Essa
condição multifatorial decorre de um balanço energético cronicamente positivo. Nesse
contexto, alcançar um balanço energético negativo é essencial para o enfrentamento
da obesidade, com recomendações que combinam dieta e exercício físico. Entre as
abordagens dietéticas disponíveis, a dieta cetogênica se destaca por sua elevada
ingestão de lipídios e baixo consumo de carboidratos. Além disso, há uma escassez
de estudos na literatura que investiguem os efeitos de dietas com quantidades muito
baixas de lipídios e ricas em carboidratos. Diante desse cenário, o presente estudo
teve como objetivo analisar os efeitos da administração ad libitum de uma dieta very
low fat (VLF) em comparação com a dieta cetogênica (KD), bem como suas versões
intermitentes (IVLF e IKD), em camundongos C57BL/6. Os animais foram alimentados
com suas respectivas dietas durante 24 semanas. Os grupos intermitentes alternaram
entre a dieta específica e a ração controle. O teste de tolerância à glicose foi realizado
na 23a semana. Foram avaliadas a composição corporal, as alterações no
metabolismo glicêmico e a expressão gênica de enzimas glicolíticas e lipolíticas nos
tecidos hepático, renal e muscular, utilizando a técnica de Reação em Cadeia da
Polimerase em Tempo Real. Os resultados mostraram que o grupo KD reduziu o
percentual de gordura corporal a partir da 16ª semana, apresentando valores
significativamente menores na 22ª semana em comparação aos outros grupos (p <
0,05). Além disso, a expressão do transportador de glicose 2 foi menor em relação ao
Ctrl (p=0,0327) e VLF (p=0,0128). A expressão de Stearoyl-CoA reductase 1 também
foi menor no grupo KD em comparação ao Ctrl (p=0,0244). Em contrapartida, o grupo
IKD apresentou aumento na ingestão alimentar e no percentual de gordura corporal
nas semanas 17 a 19, além expressão elevada de Stearoyl-CoA reductase 1 em
relação ao grupo KD (p=0,0279). A Stearoyl-CoA reductase 1 estava mais elevada no
grupo IVLF do que no KD (p=0,0196), e a expressão de Acetyl-CoA carboxilase 1
também foi maior no IVLF (p=0,0243). Conclui-se que a dieta cetogênica promove
perda de peso e altera a expressão genética de enzimas lipogênicas. O ganho de
peso no grupo IKD sugere que a dificuldade em manter a adesão a dietas restritivas
pode levar ao ganho de peso indesejado.