Índice de massa corporal e mortalidade entre idosos comunitários do sul do Brasil
Resumo
Esse trabalho faz parte do estudo de coorte realizado com idosos não institucionalizados “COMO VAI?”. O objetivo desse estudo foi avaliar a associação entre índice de massa corporal (IMC) e mortalidade entre idosos comunitários, em um período de até 3 anos de acompanhamento, observando as diferenças entre os pontos de corte propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - baixo peso: IMC < 18,5 kg/m2; eutrofia: IMC ≥ 18,5 e < 25,0 kg/m2; excesso de peso: IMC ≥ 25,0 kg/m2; e por Lipschitz - magreza: IMC < 22,0 kg/m2; eutrofia: IMC ≥ 22,0 e ≤ 27,0 kg/m2; excesso de peso: IMC > 27,0 kg/m2; e a influência da baixa quantidade de massa muscular na associação. A coleta das características socioeconômicas, demográficas e de saúde, além das medidas antropométricas, foi realizada na linha de base nos domicílios dos idosos, em 2014. O peso foi aferido com balança digital e a altura em pé foi estimada a partir da verificação da altura do joelho. Foram entrevistados 1.451 idosos, sendo que 1.364 forneceram informaçãode IMC. O acompanhamento ocorreu em 2016-7 a partir de entrevistas telefônicas ou domiciliares, com verificação dos óbitos por contato domiciliar e junto ao setor de Vigilância Epidemiológica do município. Para a investigação das associações entre IMC e mortalidade, foram realizadas análises brutas e ajustadas utilizando-se Regressão de Cox (regressão de risco proporcional), sendo demonstrados os hazard ratios (HR) de mortalidade e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Foram considerados como possíveis confundidores: idade, sexo, escolaridade, cor da pele, nível econômico, situação conjugal, consumo de álcool, atividade física, fumo, número de morbidades. A baixa quantidade de massa muscular (miopenia) foi avaliada a partir da circunferência da panturrilha. Cerca de 10% dos idosos morreram no período de aproximadamente três anos de acompanhamento. Como principais resultados, ressaltam-se: aqueles idosos classificados com baixo peso de acordo com a OMS tiveram cerca de duas vezes maior risco de mortalidade em comparação ao grupo eutrófico (HR: 2,18; IC95% 1,02-4,70), resultado similar foi observado quando utilizada a classificação de Lipschitz (HR: 1,80; IC95% 1,03-3,17). O excesso de peso, conforme a classificação da OMS, comportou-se como um fator de proteção para a mortalidade (HR: 0,58; IC95% 0,38-0,87) quando comparado ao grupo de IMC adequado. Não houve diferença estatisticamente significativa no risco de mortalidade entre os idosos com excesso de peso pela classificação de Lipschitz em relação ao peso normal. Os resultados perderam significância estatística após estratificação para a presença de baixa massa muscular (avaliada pela circunferência da panturrilha). A partir desses resultados foi possível concluir que o baixo peso aumentou o risco da mortalidade observada em até três anos entre idosos comunitários, enquanto o excesso de peso até determinado ponto mostrou-se como fator protetor da mortalidade. Ainda, a partir desse estudo é possível sugerir que a avaliação nutricional de idosos não deve considerar apenas o IMC, mas também a massa muscular, mesmo que através de medidas antropométricas simples. Neste volume constam: o projeto de pesquisa, seguido do relatório do trabalho de campo, as alterações realizadas no projeto de pesquisa, o artigo original e as normas da revista Public Health Nutrition, para qual o artigo que compõe esta Dissertação será submetido.