Solidão e Comunicação em Nietzsche: uma tensão na obra "Assim Falava Zaratustra"
Abstract
Este trabalho pretende, sobretudo, evidenciar um problema fundamental
em Assim falava Zaratustra, a saber: há uma tensão entre solidão e comunicação que
acaba determinando os rumos deste livro quanto às pretensões afirmativas de Nietzsche.
Ao mesmo tempo em que a solidão radicalizada viabiliza vivências únicas, a
comunicação, por efetivar-se através de uma linguagem predeterminada por valores
morais-gregários, torna-se prejudicada justamente pelo caráter singular e intransferível
que o isolamento imprime a tais vivências. O resultado disso é um livro problemático
tanto em relação ao seu endereçamento ( um livro para todos e para ninguém ) quanto
em relação ao seu desenvolvimento interno (a decepção de Zaratustra quando pretende
comunicar-se, inicialmente ao povo, logo no Prólogo , aos discípulos, e, já no quarto
livro, aos homens superiores). Aquilo que Zaratustra pretende comunicar, em primeiro
lugar, e intensamente durante os livros I e II, é o além-do-homem, que se mostra ser um
meio para suportar a concepção fundamental da obra, a saber: o eterno retorno do
mesmo. Sem a efetivação desse suporte (que por fim acaba consistindo em, além disso,
um modo de compreender afirmativamente o caráter cíclico do mundo), o eterno
retorno não pode ser comunicado e permanece, segundo a hipótese defendida, um
pensamento solitário e silencioso. Termina-se por assumir, neste trabalho, a
extemporaneidade de Assim falava Zaratustra; uma espera por ouvidos apropriados e
por aqueles que tenham uma vivência semelhante a Nietzsche/Zaratustra