O ensino da Língua Espanhola na Educação Especial: formação docente e aprendizagem de pessoas com Deficiência Intelectual.
Resumen
Esta pesquisa se propôs a planejar, implementar e avaliar duas intervenções aninhadas. A Intervenção 1, dirigida a acadêmicos do Curso de Letras Espanhol, objetivou formar um grupo de futuros professores para ensino do Espanhol na
Educação Especial; e a Intervenção 2, dirigida a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (PNEE), na área da Deficiência Intelectual (DI), visou a promover aprendizagens e desenvolvimento no grupo participante, a partir do ensino
dessa língua estrangeira (LE). As intervenções foram realizadas em uma Escola Especial de Pelotas/RS e dela participaram três grupos de alunos voluntários desse
Curso, no decorrer dos três anos (totalizando seis) e 13 alunos com NEE, já alfabetizados e integrados em uma classe de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esses alunos frequentavam a oficina profissionalizante da escola, desenvolvendo apenas trabalhos manuais nas áreas da culinária e da marcenaria, entre outras. A base teórica da pesquisa foi a abordagem histórico-cultural de Vigotski, que dedicou parte de seus estudos para investigar o desenvolvimento de alunos que apresentavam dificuldades relativas à aprendizagem, defendendo a ideia de que o
ensino de uma LE pode se constituir em importante ferramenta de desenvolvimento mental. Vygotsky (1982c) criticou a forma como se organizava a ação pedagógica
para alunos com DI. Argumentava que a escola, ao considerar que o aluno, em decorrência da deficiência, não tem potencial para desenvolver as capacidades de compreensão e abstração, termina por adaptar-se à deficiência, atuando no nível do treinamento das funções sensoriais e motoras, em detrimento do desenvolvimento das funções cognitivas. Os dados que avaliam a intervenção foram coletados por
meio de observações das aulas com registros sistemáticos em diário de campo, questionários com perguntas abertas, entrevistas semiestruturadas e trabalhos produzidos pelos dois grupos de sujeitos e analisados à luz de procedimentos de
análise temática (MINAYO, 1993). Em relação à Intervenção 1, os resultados sugerem que a proposta contribuiu para a formação dos futuros docentes, no sentido de: superação do medo e da insegurança; desmistificação de conceitos previamente estabelecidos sobre PNEE; consciência da importância de o professor conhecer as teorias que explicam os processos de ensino e aprendizagem; compreensão da
importância da colaboração; percepção da importância de o professor atuar como guia; compreensão do planejamento como uma valiosa ferramenta, capaz de beneficiar tanto o trabalho docente quanto o aprendizado do aluno. A Intervenção 2 indicou que o ensino da Língua Espanhola para PNEE é possível e traz benefícios cognitivos, tais como: possibilidade de uso das funções psicológicas superiores;
reflexão sobre os próprios processos mentais (voluntariedade e controle); avanços na área da linguagem (interpretação de textos e produção da escrita); maior interesse em aprender; maior autonomia na aprendizagem; desenvolvimento da
autoestima e receptividade em relação ao trabalho colaborativo. Os achados contribuem com a hipótese da necessidade do investimento em atividades complexas, voltadas às potencialidades das PNEE, e não aos seus déficits, e fornecem subsídios para as discussões sobre os currículos dos cursos de licenciatura no que concerne à importância da inclusão da temática da Educação
Especial.