As plantas bioativas como estratégia à transição agroecológica na agricultura familiar: análise sobre a utilização empírica e experimental de extratos botânicos no manejo de afídeos em hortaliças
Abstract
O conhecimento sobre a utilização de plantas bioativas para o manejo de insetos tem auxiliado no desenvolvimento de métodos menos agressivos ao ambiente e à saúde humana, constituindo-se numa estratégia viável e ambientalmente correta para ser incorporada nos sistemas de produção
agrícola familiar que almejam a sustentabilidade. Desta forma, os princípios ativos das plantas podem atuar na proteção dos cultivos agindo como repelentes, atraentes e/ou inseticidas, representando uma tecnologia de baixo custo e reduzido impacto ambiental, formulada a partir da valorização e
manutenção do saber popular. Diante destes pressupostos a pesquisa ora apresentada teve como intuito, identificar, sistematizar e contextualizar a utilização de plantas bioativas, utilizadas para o manejo em agroecossitemas, por agricultores de base ecológica do Território Zona Sul do RS, conjugando
elementos de investigação etnobotânica com dados da pesquisa experimental para legitimar o uso de espécies botânicas no manejo de afídeos em cultivos de hortaliças. Servindo-se da pesquisa participante e da abordagem
fenomenológica como ferramentas qualitativas à investigação etnobotânica realizada com 33 agricultores de base ecológica vinculados à Cooperativa Sul Ecológica e ARPA-Sul, foi possível inferir sobre a utilização empírica de 24 diferentes espécies de plantas bioativas para o manejo de agroecossistemas. Desta forma, na pesquisa experimental foi investigada a bioatividade dos extratos aquosos das cinco espécies botânicas com maior número de citações para o manejo de afídeos: Melia azedarach (Meliaceae), Tagetes minuta (Asteraceae), Peteridium aquilinum (Dennstaedtiaceae), Ruta graveolens (Rutaceae) e Urtica dioica (Urticaceae), além da espécie Solanum fastigiatum var. acicularium (Solanaceae), sobre duas espécies de importância hortícola, Brevicoryne brassicae e Myzus persicae (Hemiptera: Aphididae), em condições de laboratório. Os bioensaios incluíram a avaliação sobre a atividade
repelente e inseticida dos extratos, bem como avaliação sobre a sobrevivência, produção de ninfas e taxa instantânea de crescimento populacional dos insetos, utilizando como hospedeira a couve, Brassica olareacea var. acephala.
Conjuntamente ao extrato bruto das partes das plantas frescas (30% p/v) e secas (5% p/v), foram avaliadas as diluições de 30 e 10%, além das testemunhas água destilada e o produto teste AGV Xispa-praga. Com relação à bioatividade das plantas sobre o afídeo B. brassicae, os resultados apontaram para a ação repelente dos extratos elaborados a partir das folhas frescas e secas de R. graveolens, folhas e frutos maduros secos de M. azedarach, folhas secas de T. minuta, folhas, flores e ramos secos de U. dioica e folíolos frescos e secos de P. aquilinum. A ação inseticida mais representativa foi observada para os extratos elaborados a partir das folhas secas de R. graveolens, folíolos secos e frescos de P. aquilinum, folhas frescas de S. fastigiatum var.
acicularium e flores secas de T. minuta nas formulações bruto e diluído a 30%. Na redução da sobrevivência e produção de ninfas os resultados mais significativos foram obtidos com os extratos elaborados através das folhas secas de R. graveolens, folhas e frutos verdes secos de M. azedarach, folhas e flores secas de T. minuta, folhas, flores e ramos secos de U. dioica, folíolos secos de P. aquilinum e folhas frescas de S. fastigiatum var. acicularium. Já nos bioensaios sobre a taxa instantânea de crescimento populacional os resultados mais significativos foram obtidos com os extratos elaborados a partir de folhas e flores secas de T. minuta, folhas e frutos verdes secos de M. azedarach e folíolos secos de P. aquilinum. Nos bioensaios sobre o afídeo M. persicae os resultados apontaram para a ação repelente dos extratos aquosos
elaborados a partir das folhas secas das espécies R. graveolens e M. azedarach, além daqueles elaborados a partir das folhas, flores e ramos secos da espécie U. dioica. Os extratos elaborados a partir de folhas secas de R.
graveolens, frutos verdes secos de M. azedarach, folíolos secos de P. aquilinum, flores secas de T. minuta e folhas, flores e ramos secos de U. dioica demonstraram ainda ação sobre a biologia do afídeo, diminuindo significativamente a sobrevivência e reduzindo a prole de M. persicae,
corroborando com os resultados obtidos com a espécie B. brassicae em condições similares de laboratório. Os resultados satisfatórios obtidos com os extratos botânicos investigados corroboraram com o conhecimento agroecológico, bem como com as indicações de utilização prática das plantas
encontradas dentro dos manuais que orientam a horticultura orgânica e apontada entre as técnicas utilizadas pelos agricultores de base ecológica, representando uma alternativa viável para prevenção e controle da ocorrência de afídeos em cultivos de brássicas. Nesse contexto, é desejável que novos
trabalhos investigativos sejam realizados com as plantas e seus extratos, visando verificar a sua ação no agroecossistema como um todo, principalmente
no que se refere a toxicidade sobre organismos não-alvo, incluindo seres humanos, animais domésticos e organismos benéficos, permitindo ampliar a seguridade e a utilização da técnica enquanto prática adequada ao manejo agroecológico dos cultivos.