“E como não há foto alguma desse encontro, reúno-os aqui”: fotografia e cinema nas poéticas de Leila Danziger e Marília Garcia
Abstract
Esta pesquisa discute a intermidialidade na poesia brasileira contemporânea,
a partir das líricas de Marília Garcia e Leila Danziger, com foco nas relações estabelecidas
com a fotografia e o cinema. A análise se desdobra em três capítulos, visando identificar
como a intermidialidade se manifesta nas obras das autoras e investigando as semelhanças
e diferenças na abordagem da autorreflexão, do tempo e do espaço em suas poéticas. A
metodologia adotada envolveu os procedimentos da literatura comparada, a partir dos
estudos de intermidialidade, guiada especialmente pelas categorias intermidiáticas
propostas por Irina Rajewsky (2005; 2012). Como corpus de análise, para o
desenvolvimento desta tese, foram utilizadas a poética de Marília Garcia em 20 poemas
para seu walkman (2007), Um teste de resistores (2015), Câmera lenta (2017) e parque
das ruínas (2018), e a poesia de Leila Danziger em Três ensaios de fala (2012), Ano novo
(2016), C’est loin Bagdad [fotogramas] (2018) e Cinelândia (2021). As análises
comprovam nossa hipótese de que as imagens são elementos constitutivos das poéticas
das duas poetas, não apenas como uma temática importante para a contemporaneidade,
mas como recurso para a compreensão e elaboração do próprio processo poético, das
memórias pessoais e históricas e do espaço que as poetas habitam e frequentam. As
conclusões indicam que, embora a intermidialidade seja uma característica proeminente
nas poéticas das autoras, a palavra não tem seu poder reduzido; pelo contrário, as imagens,
com frequência, são empregadas para ampliar a reflexão sobre a própria palavra,
potencializando-a e auxiliando-a naquilo que é possível dizer. Isso fica explicitado
quando vemos que, em proporção, a presença das referências intermidiáticas é muito mais
intensa do que da combinação de mídias, ou seja, os poemas são, repetidamente, lugares
de materialização, em palavras, das imagens.