Narrativas maternas acerca do processo de escolarização de crianças negras com Transtorno do Espectro Autista: um estudo de caso em Pelotas, RS
Abstract
O presente estudo investiga a inclusão educacional de crianças negras autistas no município de Pelotas, Rio Grande do Sul, com ênfase nas percepções das mães sobre o processo de escolarização e os desafios enfrentados decorrentes da intersecção entre raça e deficiência. Desenvolvida no Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas, a pesquisa parte de um horizonte teórico fundamentado em um quadro epistemológico crítico, que integra as perspectivas feministas negras, os estudos críticos sobre raça e as abordagens decoloniais. Esses referenciais permitem analisar como o racismo e as barreiras impostas pela deficiência afetam a vida escolar e social dessas crianças e de suas famílias. A metodologia segue uma abordagem qualitativa, com entrevistas realizadas com mães de crianças negras com autismo. As entrevistas são analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo, visando identificar padrões e significados relacionados às vivências dessas mães. Os resultados mostram que a combinação de racismo e deficiência resulta em um cenário de múltiplas opressões, o que exige uma sobrecarga emocional e significativa para essas mães. Este estudo destaca barreiras estruturais e sociais enfrentadas, enfatizando como o racismo e o capacitismo interagem para agravar a marginalização dessas crianças no ambiente escolar. As mães relatam que o ambiente escolar muitas vezes reforça estereótipos e práticas excludentes, tanto por parte dos profissionais da educação quanto por meio de políticas institucionais que não consideram as especificidades de suas crianças. Assim, este estudo demonstra que a inclusão efetiva dessas crianças requer não apenas ajustes nas políticas educacionais, mas também uma transformação nas atitudes institucionais, com a adoção de estratégias pedagógicas mais inclusivas e antirracistas. As conversas com as participantes indicam que, para elas, a luta por uma educação que valorize e afirme a identidade de seus/as filhos/as é contínua e repleta de desafios. O estudo propõe a necessidade de formação crítica e constante para educadores/as e gestores/as escolares sobre a intersecção entre racismo e capacitismo. Além de fornecer uma base crítica para a formulação de políticas que promovam um sistema educacional mais justo e inclusivo, a fim de reconhecer e abordar as identidades interseccionais das crianças e suas famílias.