Do valor e entrelugar: atividade da linguagem poética sob o ponto de vista da antropologia histórica da linguagem
Abstract
A presente tese parte da leitura de Henri Meschonnic (1982) das
concepções de linguagem de Wilhelm von Humboldt, Ferdinand de Saussure e
Émile Benveniste, das quais se pode derivar uma antropologia histórica e, com
isso, refletir sobre texto, discurso e poética. Nesse escopo, destaca-se a
concepção de leitura sistêmica, como proposta por Hans Lösener (2006) com
base no pensamento meschonniquiano, que apresenta alternativas para a leitura
e a abordagem crítica textual. Em suma, no âmbito da poética do ritmo
meschonniquiana, o interesse de pesquisa assume, como parte integrante dos
estudos da linguagem, discussões de língua, de literatura, de leitura e de
tradução. Desse modo, o trabalho encontra justificativa em fatores de ordem
epistemológica, analítica e educacional, pois apresenta um horizonte de leitura,
de reconhecimento e de interrogação das teorias e de suas relações, objetivando
proceder à investigação de possibilidades críticas, abertas pela concepção de
uma antropologia histórica da linguagem, e pedagógicas, fomentadas pela
proposta de leitura sistêmica. Investiga-se, assim, uma abordagem de texto e
discurso literário enquanto sistema, conforme a pressupostos da poética do ritmo
(Meschonnic, 1982) e amparada em autores contemporâneos como Jürgen
Trabant (1998), Ludwig Jäger (2010), Gérard Dessons (2006), Hans Lösener
(2006), Chloé Laplantine (2008) e Daiane Neumann (2016), de modo a analisar
a constituição do valor como entrelugar no texto literário através da atividade da
linguagem poética. Para tanto, elege-se, como objeto de análise, um conto de
Aldyr Garcia Schlee (1991, 1999) e um poema de Georg Trakl (1913, 2010),
textos de caráter elíptico que, a despeito de sua aparente simplicidade de
linguagem, tecem arrojadas redes significativas. Almeja-se, com isso, uma
visada analítica sobre a obra literária que não esteja subordinada à crítica
historicista, mas sim interessada na historicidade construída por cada poema e
no caráter intersubjetivo do ato de leitura.

