Plantas Alimentícias Não Convencionais, PANC, Reconhecidas e Utilizadas Pelas Famílias de Estudantes da Escola Família Agrícola da Região Sul, EFASUL
Abstract
Atualmente a diversidade alimentar no planeta está restrita a poucas plantas, 50% das
calorias ingeridas diariamente são oriundas de apenas quatro espécies. Estima-se
que 30 mil espécies podem ser utilizadas na alimentação e que muitas destas
informações estão sendo perdidas entre as comunidades tradicionais detentoras
deste conhecimento. Somente no Rio Grande do Sul, estudos indicam um
conhecimento de mais de 300 espécies utilizadas na alimentação. O presente trabalho
teve como objetivo contribuir para o registro e conhecimento sobre plantas
alimentícias não convencionais (PANC) que são reconhecidas e utilizadas por
agricultoras e agricultores vinculados à Escola Família Agrícola da Região Sul -
EFASUL. Para isso foram realizadas entrevistas entre janeiro e abril de 2019, com a
participação de 21 famílias de educandos, buscando conhecer as PANC que são
reconhecidas e utilizadas, bem como as formas e frequência de usos. As amostras
das plantas citadas foram coletadas para determinação taxonômica e tombamento no
herbário ECT da Embrapa Clima Temperado. Além disso algumas com maior
disponibilidade e ausência ou número reduzido de pesquisas tiveram as partes
comestíveis coletadas para análise de compostos bioativos. As famílias entrevistadas
citaram de 29 a 60 espécies, totalizando 129 espécies pertencentes a 55 famílias
botânicas. Myrtaceae foi a mais citada seguida por Asteraceae. As espécies mais
citadas em ordem decrescente foram Ananas bracteatus, Butia odorata, Syagrus
romanzoffiana, Psidium cattleianum e Eugenia uniflora. A principal forma de consumo
é in natura, seguido por saladas e sucos, porém algumas formas processadas de
schmier, sucos e geleias são consumidos com frequência. Frutos são a parte mais
utilizada, seguido de folhas e flores. Em relação aos compostos bioativos,
carotenoides totais e compostos fenólicos totais encontrados nas flores de
Tropaeolum majus foram maiores do que os encontrados na bibliografia. Relatos das
famílias apontam que muitas plantas são utilizadas e que o conhecimento sobre os
usos permanece vivo, porém demandam conhecer mais sobre usos alimentares e
medicinais da flora regional quando em contato com o tema. Alguns agricultores e
agricultoras apontam que o avanço da monocultura e a modernização da agricultura
afetaram a abundância e distribuição de algumas espécies, principalmente as
campestres como Campomanesia aurea e Psidium salutare var. sericeum.
Percepções das agricultoras e agricultores sobre a transformação do espaço rural ao
longo do tempo, impactos da agricultura, uso de agrotóxicos e seus impactos para a
saúde são transcritos. Percepções a cerca da importância das PANC, seu uso e
benefícios para a saúde, reforçam seus interesses de uso alimentar. Registro pioneiro
para uso de Colocasia esculenta var. antiquorum para produzir bebida tipo café. O
registro destes saberes abre portas para novas pesquisas sobre o uso tradicional da
biodiversidade local e avaliações de compostos bioativos e busca salvaguardar e
divulgar as informações coletadas bem como promover a valorização da cultura e
biodiversidade local, contribuindo com a soberania e segurança alimentar dos povos
tradicionais e das futuras gerações do campo.
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