Tecendo olhares aos processos coevolutivos estabelecidos pelas famílias agricultoras guardiãs de sementes e o sistema solo
Abstract
A conservação in situ dos recursos genéticos vegetais realizada pelas famílias
agricultoras guardiãs de sementes emerge como uma atitude que está relacionada
com diversos processos que proporcionam construir agroecossistemas mais
sustentáveis. Percebe-se que nessa atitude, além da “herança” das sementes são
herdados diversos pensares, saberes, percepções, sentidos, sentimentos que dão
sentido as atitudes cotidianas dos agricultores. Nesse quesito, estima-se que a
conservação das sementes crioulas espraia-se para a conservação de aspectos
culturais que estão interligados, diretamente, com as atitudes, práticas, percepções
que são implementadas nos agroecossistemas, em contrapartida, os
agroecossistemas são capazes de demonstrar por meio de respostas as atitudes
implementadas pelos agricultores. Processos que são construtores de conhecimento
os quais são fonte para a construção de agroecossistemas mais sustentáveis. O
presente trabalho tem como objetivo estabelecer e compreender as relações que se
estabelecem entre os agricultores guardiões, suas sementes e o sistema solo. A partir
de uma metodologia qualitativa na qual se utilizou como técnica de pesquisas
perguntas semiestruturadas e as conversas com os participantespensantes. A região
de pesquisa compreende os municípios de Rio Grande e São José do Norte no Estado
do Rio Grande do Sul e apresenta uma amostra populacional de sete famílias
agricultoras guardiãs de sementes, as quais foram escolhidas de acordo com a idade
e quantidade de sementes mantidas. A Adaptação dos seres vivos não ocorre de
forma passiva ao ambiente, os seres vivos forjam, esculpem o ambiente a fim de
almejar a sobrevivência de sua espécie e para fazer isso buscam em sua memória
percepções, simbolismos, crenças, sentidos, sentimentos, que edificam a adoção de
determinadas atitudes, as quais são herdadas de seus ancestrais e aprimoradas por
meio de seus cotidianos e dos processos de aprendizagem social o que configura o
nicho cultural, o qual dá sentido as ações que os agricultores implementam em seus
agroecossistemas (nicho agrícola) que expressa, mostra respostas que são
percebidas pelos agricultores os quais passam a modificar as suas percepções,
sentidos, simbolismos, crenças, ou seja o seu nicho cultural. Alheio a tudo isso está o
nicho solo, ou seja, um hiperespaço que sofre pressões de seleção efetuadas pelo
metabolismo dos agricultores, o qual é capaz de retroalimentar a memória dos
agricultores ao refletir as atitudes outrora adotadas por meio da sua biocenose. Na
memória dos agricultores há uma linha do tempo que nos permite correlacionar os
aspectos outrora mencionados, esses percebem e relacionam que determinadas
práticas agrícolas podem ser benéficas para a saúde e qualidade do solo, bem como
adotam determinadas atitudes para melhorá-la, uma vez que perder a qualidade de
seus solos priva-os de uma liberdade de plantar, cuidar, colher, guardar e comer. Os
agricultores percebem que por meio de práticas agrícolas mais respeitosas aos
agroecossistemas há um aumento da biocenose de seus solos, fruto da interação
entre incremente de matéria orgânica, realizada por meio dos estercos de seus
animais e uso de plantas de cobertura do solo, realizada pelas suas sementes
crioulas.
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