Uma palavra é o nome de cada coisa: um estudo sobre as percepções de crianças do ciclo de alfabetização acerca da palavra oral e gráfica

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Data
2016-05-19Autor
Ferreira, Carmen Regina Gonçalves
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As percepções de crianças em processo de aquisição de escrita a respeito do que seja uma palavra, tanto no âmbito da fala como da escrita, é o tema deste estudo. Na presente tese, dados de segmentação na fala e escrita, produzidos por um grupo de seis crianças do ciclo de alfabetização, são descritos e analisados com vistas à discussão concernente a aspectos relevantes para a constituição da noção de palavra durante o período inicial de desenvolvimento da escrita. Os dados analisados foram retirados de textos produzidos de maneira espontânea e de tarefas de leitura e escrita, a partir das quais foram realizadas entrevistas clínicas, que tinham como foco indagar acerca da noção de palavra (cf. CARRAHER, 1989). Os casos de segmentação não convencional extraídos dos textos produzidos de maneira espontânea pelos sujeitos foram interpretados à luz da teoria dos constituintes prosódicos (cf. NESPOR & VOGEL, 1986) e os resultados da análise mostraram uma convergência com resultados já apontados na literatura, segundo os quais as crianças operam sob influência da hierarquia prosódica, ora partindo de constituintes mais altos, nos casos de hipossegmentação, ora de constituintes mais baixos, nos casos de hipersegmentação. Observou-se, também, a influência de aspectos semânticos relacionados ao léxico e, por vezes, pôde-se observar o efeito concomitante de informações, fruto da inserção dessas crianças em práticas letradas (cf. ABAURRE, 1991; CHACON, 2007; CAPRISTANO, 2007; CUNHA, 2004). A análise das refacções observadas no momento da redação dos textos mostrou que o murmúrio produzido pela criança enquanto escreve produz um contorno entonacional que pode gerar uma escrita não convencional, o que evidencia complexidade dos vazamentos orais/escritos (cf. ABAURRE, 1991). Nas ocorrências de flutuações (cf. CHACON, 2007), verificou-se que o modo como a criança retorna à escrita, após uma pausa, pode ser influenciado por critérios fonológicos, semânticos ou ortográficos. No entanto, tais modos de retorno não podem ser interpretados como ações metalinguísticas. Já o material coletado por meio das entrevistas clínicas mostrou que a criança rejeita estruturas constituídas por um ou dois caracteres com ausência de acento como sendo palavra e que, mesmo quando segmenta todas as palavras de forma convencional, não está necessariamente, considerando cada estrutura como palavra. Isso demonstra que os critérios são oscilantes, pois há momentos em que a criança interpreta a palavra de acordo com o número de letras e em outros momentos como sílabas. Os resultados mostraram, portanto, que a trajetória da criança em direção à palavra falada/escrita é não linear e apresenta multiplicidade nas acepções. A noção de palavra, além de ser múltipla, constitui-se de singularidades referentes à forma como cada criança vai, ao longo do tempo, construindo essa noção que poderá ser o resultado de diversos percursos.
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